Apneia obstrutiva do sono e acidente vascular encefálico
A relação entre apneia obstrutiva do sono e acidente vascular encefálico (AVE) está sendo demonstrada em diversos estudos. Um deles foi publicado no periódico Sleep Medicine, e realizado pela equipe de neurologistas da USP de Ribeirão Preto, avaliando pacientes que tiveram o primeiro AVE isquêmico agudo.
Como foi realizado o estudo
Os participantes analisados eram homens com idade média de 60 a 70 anos, com a maioria apresentando histórico de ronco habitual.
As informações avaliadas dos pacientes incluíam dados demográficos, fatores de risco vascular, índice de massa corporal (IMC), presença habitual de ronco e tempo de início dos sintomas.
Também foram realizados testes laboratoriais, avaliações neurológicas e polissonografia completa, em até 24 horas após o início dos sintomas do AVE. A recuperação funcional também foi investigada seis meses após o evento.
Diagnóstico da apneia obstrutiva do sono
Segundo os autores do estudo, apneia obstrutiva do sono e acidente vascular encefálico, compõem a relação de distúrbio respiratório do sono mais frequente entre pacientes com AVE. Outros distúrbios incluem: apneia central do sono, hipoventilação/hipoxemia relacionada ao sono e sintomas isolados, de acordo com a Academia Americana de Medicina do Sono.
Para a suspeita diagnóstica da apneia obstrutiva do sono na população geral, consideramos critérios clínicos, como queixas de sonolência, sono não reparador, roncos, pausas respiratórias durante o sono maiores que 10 segundos testemunhadas, entre outros. Além disso, são realizados exames específicos.
O exame de escolha para o diagnóstico da apneia obstrutiva do sono é a polissonografia completa, que indica o índice de apneia-hipopneia (IAH), ou seja, o número de eventos por hora de sono.
Um índice menor que 5 num exame polissonográfico completo exclui o diagnóstico de apneia obstrutiva na população geral. No entanto, a análise em pacientes com AVE é diferenciada, pois é mais difícil estabelecer claramente os critérios clínicos.
Foi definido em vários estudos, que um IAH maior que 10 confirma o diagnóstico de apneia obstrutiva do sono nesses pacientes. Portanto, apenas nesse contexto, um IAH inferior a 10 exclui o distúrbio respiratório do sono.
Os resultados da pesquisa
Neste estudo, a média de IAH observada foi de aproximadamente 37, ou seja, uma frequência de apneia obstrutiva maior que na população geral. Dessa forma, podemos considerar que a apneia obstrutiva do sono e acidente vascular encefálico tem uma relação risco direta e é um fator de risco independente.
Além disso, na fase aguda do AVE, dependendo de sua gravidade, podem ocorrer exacerbações e/ou novos episódios de apneias durante o sono.
Alguns indícios observados nesta pesquisa fazem acreditar que a maioria dos indivíduos com AVE já apresentava apneia obstrutiva do sono, pois algumas queixas relacionadas ao sono, como o ronco (um sintoma comum da apneia obstrutiva), já ocorria antes do evento vascular.
Resultados da apneia obstrutiva do sono e acidente vascular encefálico tardios
A presença de apneia obstrutiva do sono grave também esteve associada com um pior resultado funcional, em longo prazo. Neste estudo, os pacientes foram avaliados após seis meses do evento cerebrovascular, e aqueles que a apneia obstrutiva do sono grave foi diagnosticada, na fase aguda do AVE, apresentaram incapacidade moderada, como o uso de bengala ou andador para caminhar.
Mesmo com a pesquisa não considerando todas as atividades da vida diária, nem os aspectos cognitivos que poderiam ser afetados após o AVE, este dado não deixa de ser preocupante.
Apesar de ainda ser uma doença negligenciada, a apneia obstrutiva do sono é um fator de risco independente para AVE. Portanto, a avaliação dos seus sinais e sintomas sugestivos é de extrema importância para que o diagnóstico e o tratamento sejam feitos precocemente, como um dos pilares na estratégia de prevenção do AVE.
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