OS MALES DE UMA SOCIEDADE QUE NÃO DORME


Trabalhos em turnos e noturnos afetam qualidade de vida e sono dos trabalhadores

Vivemos na era da globalização, da tecnologia e das notícias constantes e rápidas. O ritmo das grandes metrópoles é frenético. Há produção e oferta de serviços a qualquer horário.Enquanto uns se preparam para dormir, outros seguem para o trabalho.

Essa é uma realidade contemporânea definida, em 1867, pelo filósofo Karl Marx como o impulso imanente da produção capitalista. Diversas pesquisas apontam que, se por um lado, o sistema de trabalho em turnos traz vantagens econômicas e competitivas, por outro, causa impacto diretamente na saúde e bem-estar do funcionário. Segundo a bióloga e sanitarista Frida Marina Fischer, professora titular do Departamento de Saúde Ambiental da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP/USP), o custo humano para manter a sociedade 24 horas é alto.

“As modificações do ciclo vigília-sono que ocorrem quando a pessoa é obrigada a trabalhar à noite, alteram a ritmicidade biológica provocando uma importante desarmonia interna no funcionamento de todo nosso organismo. São modificados, por exemplo, os hormônios do apetite e da saciedade, a facilidade que a pessoa tem para adormecer, a manutenção do sono, os níveis de alerta e a sonolência durante o período da vigília”.

O indivíduo que trabalha em turnos, principalmente no período da noite, pode apresentar restrição crônica do sono e subsequente fadiga, sonolência excessiva, distúrbios do sono,
bruscas variações de humor, efeitos neuropsíquicos e mal-estar. O repórter cinematográfico Antonio Carlos Barbosa, da TV Record, conhece bem as consequências da privação de sono. Ele trabalha em televisão há 20 anos e está acostumado a desempenhar suas atividades em horários alternativos e, ainda, concilia turnos extras de trabalhos “freelancer”. “Apesar de a emissora garantir 12 horas de descanso, tem dias que saio de casa às cinco e meia da manhã e volto de madrugada, por volta das duas. Depois que cumpro o meu horário na TV, eu faço transmissão ao vivo de jogos esportivos. Acabo dormindo muito pouco e no outro dia sinto que meu rendimento diminui e a criação – que é parte essencial do meu trabalho – fica um pouco comprometida”.

A pesquisadora ressalta que um dos principais efeitos em longo prazo desse estilo de vida pode ser o envelhecimento funcional precoce. “A pessoa tem uma predisposição maior para desenvolver alguns tipos de doenças crônicas, tais como obesidade, diabetes, problemas gastrointestinais, hipertensão e outros problemas cardiovasculares e depressão. No caso do câncer, embora ainda haja controvérsias a respeito, vários trabalhos publicados mostram risco ampliado de desenvolvimento da doença com o aumento da exposição de luz à noite”.

Frida alerta também sobre as chances de acidentes de trabalho quando o profissional dirige com sono, colocando a própria vida e de outras pessoas em perigo. “Alguns jogos são realizados no interior de São Paulo e às vezes não consigo ir com o transporte que a produtora disponibiliza para a equipe. Em uma dessas viagens, tive que ir com o meu carro. Na volta, eu cochilei e quando percebi já estava saindo da estrada. É arriscado, mas não tem outro jeito, ter mais de um emprego é normal nesse meio”, assume Antonio Carlos.

A estimativa é e, no Brasil, aproximadamente 15 milhões de pessoas exerçam suas funções fora do período diurno para atender as exigências de uma sociedade 24 horas. “Geralmente, quem dorme de dia tem dificuldades para ter um sono profundo mais prolongado, assim como tem reduzido o tempo de sono REM. A qualidade do sono diurno é distinta e pior que a do sono noturno, uma vez que pode ser perturbado por fatores internos relacionados à ritmicidade biológica e por fatores ambientais, como a claridade, o ruído, as necessidades de realizar tarefas domésticas, cuidados com os filhos, entre outros”, diz a especialista.

Dra. Fischer destaca que a Associação Brasileira do Sono tem exercido um relevante papel para conscientizar a população desses agravos à saúde,especialmente os empregadores, que podem adotar medidas preventivas para minimizar esses problemas. A professora ainda reforça que o Congresso Nacional deve ser sensibilizado para que seja mantido o que está na Constituição Federal, artigo 7º. Inciso XIV, que dispõe sobre a redução da jornada de trabalho em turnos ininterruptos de revezamento de 6 horas diárias, com possibilidade de negociação coletiva.

RECOMENDAÇÕES – TRABALHO NOTURNO

• Rotina de repouso – é mais fácil adormecer após uma leve refeição, logo no início da tarde, em ambiente escuro e tranquilo. É comum que esses trabalhadores durmam mais de uma vez durante o dia. Um cochilo antes de ir trabalhar reduz a sonolência noturna;
• Alimentação leve e equilibrada – diminuir o consumo de gorduras, ingerir frutas, saladas frescas e sucos naturais, evitar bebidas alcoólicas, refrigerantes, café, chá preto ou mate;
• Exercícios físicos regulares – a prática contribui para melhorar o sono e manter o peso.
 Não fumar.

 

 




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