O que é ritmo circadiano, tema dos vencedores do Nobel de Medicina


O que é ritmo circadiano, tema dos vencedores do Nobel de Medicina

Relógio biológico controla o sono e outras funções do organismo

POR SÉRGIO MATSUURA

O ritmo circadiano é responsável pela regulação do sono e outras funções do organismo – Pixabay

RIO — A regulação dos horários do sono é o exemplo mais óbvio da importância do ritmo circadiano para o funcionamento do organismo humano. Ao longo de um período aproximado de 24 horas, genes regulam a liberação do hormônio melatonina. Durante a noite, no escuro, os níveis aumentam e, com a claridade, baixam. Mas o relógio biológico — tema que rendeu a três pesquisadores americanos o Nobel de Medicina deste ano — é responsável pelas variações diárias no metabolismo e sua alteração crônica está relacionada com graves doenças, incluindo o câncer.

— Experimentos com animais mostram que a destruição do relógio biológico é incompatível com a sobrevivência, não por acaso a Academia resolveu premiar o trio americano — comentou o doutor em neurociência Fernando Mazzilli Louzada, professor do Departamento de Fisiologia da UFPR. — Pensar em sono é o mais evidente, mas hoje já sabemos, por exemplo, que situações crônicas de alteração no ritmo circadiano estão relacionadas com aumento no risco de câncer de mama.

O ritmo circadiano está diretamente relacionado com a iluminação do ambiente. Ele é regulado pelo núcleo supraquiasmático, estrutura no cérebro que recebe informações dos fotorreceptores da retina. Pessoas cegas geralmente apresentam problemas com o relógio biológico, já que não podem obter os sinais de claridade. Ao escurecer, o núcleo supraquiasmático envia um sinal para a glândula pineal secretar melatonina. Essa mecânica também reduz a temperatura corporal e a pressão sanguínea, e tudo é controlado pelos genes, sendo que o funcionamento do primeiro deles — o “Period“ — foi descrito por dois dos laureados deste ano, Jeffrey Hall e Michael Rosbash.

Michael Young descobriu um segundo gene, o “Timeless”, que atua com o “Period” na regulação do ritmo circadiano. Por muito tempo acreditou-se que o sono das pessoas era regulado pelo hábito, mas essas descobertas mostraram que se trata de uma questão genética. Alguns são mais dispostos pela parte da manhã, outros pela tarde e noite.

— Algumas pessoas são matutinas, outras vespertinas, e essas características estão relacionadas com a predisposição genética — explicou Louzada.

Alterações no ritmo circadiano podem provocar graves distúrbios do sono. Isso pode ser experimentado por viagens para regiões com diferentes fusos horários, o famoso jet lag. Esse problema também é experimentado, geralmente de forma leve, com a introdução do horário de verão. Pessoas que trabalham em turnos noturnos ou com rotação também experimentam essa desregulação no relógio biológico, que pode se manifestar pela insônia, irritabilidade e dificuldade de concentração.

— Mas o ritmo circadiano tem implicações além do sono. Ele está relacionado com a alimentação, por exemplo, e com a forma de o nosso organismo lidar com o consumo energético e o armazenamento de gordura — disse Louzada. — Na natureza, é ele que regula o período de reprodução dos animais e do florescer das plantas. É pela percepção da duração do dia que os ritmos sazonais são ditados.

O prêmio Nobel de Medicina foi concedido a três cientistas as americanos: Jeffrey C. Hall, Michael Rosbash e Michael W. Young. Em 1984, Hall e Rosbash conseguiram isolar o “Period” em moscas drosófilas e, posteriormente, descobriram que os níveis da proteína associada a ele, batizada como “PER”, variavam ao longo do dia. Em 1994, Young descobriu o “Timeless”.

Para Michael Hasting, do Conselho de Pesquisas Médicas do Reino Unido, os estudos realizados pelo trio abriram caminho para um novo campo de estudo para a biologia e a medicina.

— Até então, o relógio biológico era como uma caixa preta — avaliou Hasting, à Associated Press. — Nós não sabíamos nada sobre a sua operação. Mas o que eles conseguiram foi identificar os genes que regulam o relógio biológico, e quando você tem os genes, pode fazer o que quiser.

Fonte: O Globo




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