DORMIR POUCO PODE LEVAR À DEPRESSÃO E DESENCADEAR PENSAMENTOS SUICIDAS


DORMIR POUCO PODE LEVAR À DEPRESSÃO E DESENCADEAR PENSAMENTOS SUICIDAS

O reconhecimento é a chave essencial para a prevenção e a promoção da saúdeN este ano, a Organização Mundial da Saúde (OMS) promoveu uma campanha preventiva no Dia Mundial da
Saúde,comemorado no dia 07 de abril, sobre a Depressão. Com o slogan “Let’s talk! ”, a ação alerta para a importância da identificação do problema através do diálogo e atenção ao
comportamento do indivíduo. Nesse sentido, a ABS adverte que a má qualidade do sono é um significativo preditor para essa doença.

Alguns estudos mostram que a insônia aumenta em até quatro vezes o risco para depressão. Por outro lado, também é consenso, validado através de pesquisas, que esse problema é
apontado como a maior causa de insônia crônica. A psicóloga/ neuropsicóloga Dra. Katie Almondes, coordenadora do Departamento de Neurociências e Comportamento da ABS,
fundamenta que a associação entre insônia e depressão é bidirecional, dificultando a identificação da relação entre causa-e- efeito. “É difícil precisar o fator etiológico inicial, se a
depressão ocasionou a insônia como sintoma – dados mostram que é de 40% – ou se havia um Transtorno de Insônia e o problema apareceu como manifestação do quadro. Referências da
literatura exibem que a dificuldade para dormir é um fator potencial para recorrentes ou novos episódios de depressão. Uma entrevista clínica pormenorizada, realizada por especialistas na área de saúde mental e sono, acessando a história pré-mórbida (antes dos sintomas e/ou quadros clínicos), e contando com a ajuda dos familiares que acompanham esse indivíduo, pode ajudar, ocasionalmente, a tentar reconhecer o quadro inicial”.

O professor de psiquiatria Dr. Breno Diniz, da University of Texas Health Science Center, em Houston, corrobora e acrescenta que todos os pacientes com insônia devem ser investigados
para outras doenças clínicas em que problemas de sono são comuns. “Muitos pacientes vêm ao consultório com queixas de insônia e outros sintomas como fatigabilidade, cansaço, falta de
concentração, que são também sintomas depressivos. Fatores ambientais estão relacionados à insônia, bem como, o uso excessivo de estimulantes, bebidas à base de cafeína,
hiperestimulação visual e auditiva durante a noite, trabalhos em turno noturno e falta de atividade física. A investigação de causas secundárias de insônia, principalmente da Apneia
Obstrutiva do Sono, é muito importante porque permite o tratamento mais específico da insônia e evita-se medicações para dormir”.
Ambos os distúrbios são altamente prevalentes e frequentemente co-ocorrem em adolescentes, adultos e, especialmente, em idosos, sendo mais comuns em mulheres. De acordo com os especialistas, o tratamento combinado entre intervenções farmacológicas e não farmacológicas como a Terapia Cognitivo Comportamental para insônia tem mostrado eficácia e resultados satisfatórios para melhorar, reduzir e prevenir a depressão e a falta de sono.

“Além disso, técnicas de higiene de sono – suspender ou diminuir substancialmente o consumo de bebidas alcoólicas por no mínimo seis horas antes de dormir; evitar o uso de
estimulantes como café, chá preto, verde ou mate e energéticos; evitar refeições pesadas antes de dormir; evitar dormir durante o dia; perder peso; praticar exercícios físicos regulares
preferencialmente até quatro a seis horas antes de deitar; melhorar o ambiente do sono; manter hábitos adequados como horário regular de ir para a cama e levantar da cama; evitar atividades na cama que não sejam dormir e o ato sexual; evitar passar tempo excessivo na cama; procurar relaxar física e mentalmente pelo menos duas horas antes de dormir são muito importantes para regular o sono”, lista Dr. Diniz. Quando essas intervenções não são efetivas, os medicamentos – por exemplo os benzodiazepínicos, devem ser usados na menor dose possível e por tempo limitado. Outras drogas como o zolpidem e o zolpiclone são alternativas seguras. Mais recentemente duas medicações sem característica sedativa foram lançadas (Ramelteon e Suvoroxante) e são bastantes promissoras para o tratamento da insônia.

Conforme a psiquiatra Dra. Gisele Minhoto, professora da Escola de Medicina da PUCPR, vários estudos mostram que a falta de sono, principalmente a insônia, pode contribuir para o risco de
ideação suicida. “Ainda não está claro o mecanismo para que a insônia possa contribuir para o aumento do risco de suicídio, algumas das hipóteses são: a presença de desesperança, falta de
perspectiva e desânimo”.

A correlação entre o risco de suicídio e a insônia é um tema que precisa ser mais discutido e aprofundado. A ideação suicida ocorre quando o indivíduo começa a pensar que quer morrer e
começa a planejar a possibilidade de se matar. Em comparação a outros países como Noruega, Suécia, Finlândia e Coreia, o Brasil ainda apresenta taxas de suicídio relativamente baixas.
Apesar disso, o suicídio é um problema de saúde pública gravíssimo e que vem aumentando nos últimos anos. Segundo dados divulgados no último Congresso da ABS, a taxa de suicídio
entre os adolescentes brasileiros cresceu 15%.

Para a Dra. Katie, a divulgação da série 13 Reasons Why, do jogo Baleia Azul e do filme de animação direcionado para crianças intitulado Le Magasin des suicides, que também tem
provocado inúmeras críticas e debates – desperta para a importância de discussão aberta sobre temas como depressão, ideação suicida, bullying, violência física e violência de gênero.
“Isso força o debate entre pais e jovens que, geralmente, por não saberem lidar com esses temas com os filhos tendem a varrer, através de atitudes autoritárias, a discussão para
“debaixo do tapete” ou para fora de casa, reforçando a busca dos filhos por soluções nada adequadas. O principal alerta aos os pais e educadores é o chamamento de que a depressão
acomete fortemente adolescentes e que é possível identificar e tratar. O papel dos educadores é essencial neste debate, pois assim como a população foi orientada para identificar febre e
suspeitar que algo está errado e procurar ajuda médica, as pessoas deveriam ser orientadas para identificar a depressão e outros males da alma”, atenta.

A recomendação é que os pais acompanhem os conteúdos de acesso dos seus filhos para realizar as orientações e, principalmente, organizem a rotina de acesso aos computadores,
celulares, e outras mídias para não prejudicar o sono deles, com desligamento dessas mídias, pelo menos duas horas antes de dormir, e assim evitar o desencadeamento de inúmeras
consequências para a saúde biopsicossocial.
“Em qualquer faixa etária, é importante ao avaliar um paciente com queixa de insônia, analisar a duração do sono, presença de sintomas depressivos e de ansiedade e sentimentos de
desesperança. O risco de suicídio está aumentado nos pacientes que apresentam insônia independente da presença de transtorno depressivo, mas as chances são maiores quando se
tem depressão e ansiedade”, conclui Dra. Minhoto

Revista da Associação Brasileira do Sono – Edição Abril/Maio/ Junho – 2017




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