Mudança de horário pode pôr fim ao cochilo em aula


A estudante Maria Fernanda Veríssimo, 16, tenta, mas nem sempre consegue, dormir cedo para acordar às 5h30 e ir para a escola.

Ela diz já estar acostumada a essa rotina, mas conta que a maioria dos colegas sempre cochila nos primeiros horários. Esse comportamento é reflexo de um déficit, comum a quase todos os adolescentes, de mais ou menos duas horas de sono por dia.

Dados internacionais revelam que quase 3/4 dos jovens dormem menos de oito horas por noite e mais de 2/5 dormem seis horas ou menos.

Para os especialistas, como os adolescentes estão indo se deitar cada vez mais tarde – também por conta do excesso de estímulos recebidos por essa geração sempre conectada –, a privação crônica do sono está gerando uma série de problemas comportamentais, além de prejudicar o desempenho escolar.

A recomendação, segundo a Associação Brasileira do Sono (ABSono), é que o adolescente durma de nove a dez horas por noite, mas pesquisa da entidade mostra que o tempo médio de sono dos jovens durante a semana é de seis a sete horas. “Se eu tenho que dormir menos, quando chego na escola, às vezes o olho começa a ‘pesar’, e isso dificulta muito assistir às aulas”, diz Maria.

Diante disso, a ABSono, alinhada com a Academia Norte-Americana de Pediatria e com o movimento Start School Later, lançou uma campanha propondo às escolas atrasar o início das aulas do ensino médio para 8h30 em 2020. Neste ano, a Califórnia se tornou o primeiro Estado norte-americano a adotar essa mudança na maioria das escolas públicas, com a esperança de que a medida ajude os adolescentes a ter um melhor aprendizado.

Bruno de Lucca, 18, é totalmente a favor da mudança. Ele concluiu neste ano o ensino médio e lembra muito bem como sofreu para acordar às 6h todos os dias depois de ir para cama à meia-noite. “Isso me atrapalhava demais a concentrar. Sempre fui a favor”, disse.

Mudança

No Brasil, chegou a tramitar na Câmara dos Deputados um Projeto de Lei que propunha essa mudança em escolas públicas e privadas de todo o país. Porém, o PL do então deputado Marcelo Belinati (PP) foi arquivado em 2017.

Mesmo assim, o Colégio Marista Asa Sul, em Brasília, vai oferecer a possibilidade de pais e alunos aderirem ao horário de 8h30 em 2020, como recomenda a ABSono. Segundo o diretor da instituição, Rony Ahlfeldt, uma pesquisa identificou que pelo menos 40% das famílias teriam interesse nessa alteração.

“Muitas famílias concordam que esse horário mais tarde é melhor para seus filhos, mas, por outro lado, outras famílias acreditam que não seria adequado para eles”, diz.

Por esse motivo, segundo Ahlfeldt, serão oferecidas as duas opções. “Nós manteremos a mesma carga horária, tanto para os alunos que queiram iniciar às 7h10 quanto para aqueles que entrem às 8h45.

A diferença é que quem começar as aulas às 8h45 avançará no horário da tarde”, afirma o diretor.

Em Minas, a Secretaria de Estado de Educação informou que não há previsão de adesão à novidade. “Não há qualquer proposta de alteração no horário de início das aulas nas escolas na rede pública estadual em 2020”, informou em nota.

Falta de sono deixa células mais lentas

Ao acordar muito cedo para irem à escola, os adolescentes passam a sofrer uma restrição de sono durante os dias da semana, levando-os à dificuldades no aprendizado, explica a vice-presidente da ABSono e especialista em cronobiologia, Claudia Moreno.

“Os adolescentes têm naturalmente um atraso de fase em seus ritmos biológicos, característico da puberdade, o que os leva a sentir sono mais tardiamente quando comparados a crianças”, afirma.

Diego de Noronha, 15, estuda em uma escola particular do DF, onde as aulas começam às 7h15. “Nas duas primeiras aulas é muito difícil me concentrar porque estou com sono, estou cansado e ainda não estou acordado direito”, conta.

Segundo a psiquiatra infantojuvenil Jaqueline Bifano, a privação do sono leva a um prejuízo cognitivo. “As células do cérebro tornam-se mais lentas, comprometendo a comunicação neural, e assim altera-se o humor, a energia e o pensamento.

A pessoa tem dificuldade de concentração, e o adolescente não vai conseguir sustentar a atenção por um período suficiente para memorizar e aprender”, afirma.

Congresso

Evento. O tema “É possível mudar os horários escolares?” fez parte da programação do Congresso Brasileiro do Sono, que será realizado de 4 a 7 de dezembro, em Foz do Iguaçu.

Fonte: O Tempo




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