APLICATIVOS PARA MONITORAR O SONO: inimigos ou aliados?


APLICATIVOS PARA MONITORAR O SONO: inimigos ou aliados?

O uso intenso e diário dos smartphones é uma realidade que só cresce nos últimos tempos – os usuários querem estar conectados o tempo todo, a toda hora. E os aplicativos mobiles têm um papel importante nisso, já que é difícil hoje alguém ficar sem eles, seja no âmbito profissional e/ou pessoal. O site Yahoo, por meio da Flurry, principal ferramenta de mobile analytics, divulgou, ano passado, uma pesquisa com as principais tendências do mercado mobile, que registrou, em 2015, um aumento de 58% no uso de aplicativos. Sugere-se que esse número seja ainda maior atualmente.
Existe, até mesmo, uma plataforma chamada Kickstarter, que capta recursos para disponibilizar novas tecnologias para os “apps”. Ela coletou, recentemente, cerca de dois milhões de dólares para desenvolver aplicativos voltados para a área do sono, por exemplo. Para o Dr. George do Lago Pinheiro, médico pesquisador do Laboratório do Sono do Instituto do Coração – InCor (HCFMUSP) e otorrinolaringologista do Núcleo Interdisciplinar da Ciência do Sono (NICS), em São Paulo, é cada vez mais frequente, no consultório, pacientes informarem que estão utilizando em seu dia a dia aplicativos de celular para monitorar o sono. “Há casos em que o paciente chega até nós, médicos, já com um ‘diagnóstico’ em mente, declarando que determinado aplicativo apontou que ele possui um sono leve”, comenta.
Segundo o especialista, quando esses apps estão alinhados a uma história clínica bem aprofundada, com acompanhamento especializado, é possível coletar informações válidas e pertinentes. No entanto, algumas vezes, o indivíduo usa essa tecnologia por conta própria, o que é perigoso.“Quando o paciente assume o papel de ele mesmo interpretar os dados fornecidos pelo aplicativo, sem saber se realmente o app cumpre o que promete, essas informações podem sugerir um diagnóstico errôneo e causar na própria pessoa uma ansiedade e uma expectativa com algo que pode não ser compatível com o que ela realmente possui”, esclarece.
De acordo com ele, o aplicativo Go to Sleep, por exemplo, desenvolvido pela Universidade de Cleveland, nos EUA, em contrapartida, é um recurso interessante já que sua proposta é educacional e de orientação ao paciente quanto à sua rotina de sono. Há também o “famoso” Snorelab, muito conhecido na área da saúde e muito utilizado pelos profissionais. O aplicativo, que se destaca pela função de gravar o ronco, pode ser uma ferramenta importante para àquelas pessoas que negam ou que, simplesmente, não sabem que roncam. Porém, o ideal é sempre consultar o médico para averiguar as informações trazidas por esse tipo de tecnologia e buscar, também, saber a metodologia utilizada.
Pensando nisso, alguns especialistas, dentre eles o Dr. George, sob orientação do Dr. Geraldo Lorenzi Filho, estão validando no InCor um dispositivo chamado Oxistar, desenvolvido por uma
empresa de tecnologia. O aparelho nada mais é que um oxímetro digital com design próprio, cuja função é enviar informações do paciente, via Bluetooth, para um determinado aplicativo
de celular, que também está sendo produzido em conjunto. “Esse sistema, oxímetro mais aplicativo, é de uso médico e seu principal objetivo é o correto diagnóstico da apneia do sono (condição que atinge cerca de 32% da população), através de um estudo respiratório do paciente. Estamos ainda no processo de validação desse sistema, mas ao que tudo indica, esse pode ser, em breve, um recurso importante para detectar a apneia obstrutiva do sono”, explica o médico.A intenção é que esse sistema seja mais simples para o diagnóstico e, também, de fácil acesso. “Não se pode ‘demonizar’ esse tipo de tecnologia, ela pode ser sim uma ferramenta muito válida para o médico e para o paciente, desde que demonstre com segurança seus dados, e que seja algo bem embasado cientificamente”, conclui.

APARELHOS PORTÁTEIS PARA MONITORAR APNEIA DO SONO JÁ SÃO REALIDADE NO BRASIL

Atualmente, tudo que é acessível e de simples manipulação é mais utilizado pelas pessoas, até porque o fácil acesso à tecnologia, seja ela qual for, tem sido o objetivo de diversas áreas do mercado em geral, inclusive a área da saúde. Hoje, até mesmo os pacientes que possuem probabilidade (moderada ou acentuada) de apneia obstrutiva do sono, por exemplo, contam com aparelhos portáteis e domiciliares para monitorização da condição.
“No Brasil, os principais aparelhos domiciliares utilizados para monitorar a apneia do sono são o ApneaLink, da empresa ResMed, o Alice pdX, da Respironics e o Finder, da Meditron – todos
aprovados cientificamente. O equipamento é de uso médico e utilizado para detecção e diagnóstico da apneia. Para isso, ele conta com alguns sensores importantes que detectam o fluxo aéreo nasal, que mede o quanto de ar está entrando e saindo, a saturação periférica de oxigênio e o esforço torácico abdominal, ou seja, se o paciente está expirando e inspirando adequadamente. Esses sensores são todos conectados em uma pequena caixa que, normalmente, é colocada no tórax do paciente. Geralmente, o exame é realizado somente em uma noite de sono”, explica Dr. Alan Eckeli, professor de neurologia e Medicina do Sono, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP) e membro da ABS.
Segundo o médico, os dados captados pelos sensores ficam armazenados na memória do aparelho, que depois é analisado pelo especialista a fim de realizar o diagnóstico do paciente. Para o especialista, é essencial que esse aparelho seja indicado corretamente. “É somente em uma avaliação clínica aprofundada que o profissional de saúde consegue perceber se o paciente tem alguma contraindicação para a realização desse tipo de exame. Pacientes com doença cardíaca ou pulmonar grave, com fraqueza muscular, que esteja associada a uma doença neuromuscular, ou que possua hipoventilação relacionada ao sono não devem ser submetidos a esse tipo de avaliação”, afirma.
Além disso, é muito importante a escolha por parte do médico do equipamento a ser utilizado na avaliação domiciliar. O mercado brasileiro conta com uma variedade significativa de aparelhos e é preciso atenção. “A validação científica do equipamento é indispensável para constatar se ele funciona adequadamente, se não há anomalias defeituosas na tecnologia, se ele fornece as informações pretendidas e, principalmente, se o equipamento consegue realizar aquilo a que se propõe. No Brasil, felizmente, a maior parte dos aparelhos é aprovada clinicamente”, esclarece o especialista.
Apesar disso, o neurologista faz um alerta quanto à administração desse tipo de exame, que deve possuir sempre suporte médico especializado e qualificado. “Infelizmente, algumas empresas ‘tomam para si’ a tarefa de ministrar o exame domiciliar no paciente sem uma análise clínica anterior e aprofundada, para ver, por exemplo, a probabilidade de apneia – um fator fundamental. Muitas vezes, não há nenhum profissional de saúde envolvido. Etapas como a avaliação correta de saúde do paciente, indicação segura do exame (se pode mesmo ser domiciliar ou se deve ser o exame padrão, com polissonografia) e o retorno com o médico para diagnóstico e tratamento são fundamentais. Muitas empresas não respeitam esse processo. Em São Paulo e no interior paulista, por exemplo, tem-se observado cada vez maisesse tipo de prática perigosa”, declara Eckeli.
Para o médico, é preciso mais fiscalização, a fim de detectar empresas sem responsabilidade que vendem esse tipo de exame, bem como lojas, profissionais envolvidos e aparelhos utilizados, averiguando se estão de acordo com a lei e com os preceitos clínicos. “Um erro no diagnóstico de uma apneia do sono pode trazer ao paciente consequências graves e irremediáveis. Por isso, é essencial um acompanhamento clínico contínuo e de qualidade nesse tipo de avaliação”, finaliza.

Revista associação Brasileira do sono

 




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